28 de mai. de 2010

O Detalhe das coisas. (Jurandir Bozo)




É quando estou sozinho
Que enxergo os detalhes das coisas
Como se o vento desenhasse incoercível
Meus mais profundos e taciturnos pensamentos
Embriagados no tédio que me acedia
Grito a noite como se já morto estivesse
Saindo vadio a procura de nada
Vejo o céu, as poucas estrelas que ainda me restam
Já não encanto as serpentes
Padeço envenenado do mal que constituir
Deixo que o véu cobra-me o rosto
Esconda as ilusões
E que ele voe quando soprado for
Talvez levando consigo as sobras do meu olhar.
Hoje acordei saudoso
E a saudade é a porta dos fundos dos sentimentos inóspitos
Assim vejo as miudezas do meu apartamento
O desenho no forro de gesso
Os caminhos que enxergo nas emendas do piso
A torneira que pinga, o relógio que ritma o tempo
A sinfonia do silêncio na minha madrugada
A poeira no canto da porta
Os armários da cozinha descascados
As panelas sujas na pia e a geladeira por desgelar
Assim a vida escorre entre meus dedos e meus olhos
Pois é sempre assim
Os ventos de solidão que enxergam os detalhes das coisas
Como se desenhasse inexorável
A triste e prolixa versão dos sonhos que dei fim.

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