30 de nov. de 2006

Dia 23 (Fabio Sirino)

Para você, parabéns!
Para mim, o gosto amargo da falta que me fazes...


No teu dia, sorrisos; recados, presentes, carinho;
Fica em mim a sensação do fracasso
Do peso que levei à tua vida.

Nas minhas palavras, mentiras
O que anunciei a ti
No conforto da distancia tecnológica
Para ouvir de ti, verdades, coisas tuas...

Pois bem...
Serei personagem.
Sem olhares ou coração
Seguirei a fio o papel que me impões

Assumirei sozinho a dor que pari, e que só a mim pertence.
O que sempre insistiu que era só meu
(como se eu já não soubesse)
Enquanto ouvia teu mundo covarde
E me doava em segurança que no momento não me pertencia...

Tentei ser leve, amigo, amante...
Mas era impossível!
Eu era outro que nem se quer conheço...
Respeitava o que te fazia mal
Respeitando teu passado, tuas marcas.

Pois bem, estrela...
Já sei do mal que sou
Do peso que tenho
E mesmo assim parti sem te dizer ofensas
Com a ferida aberta.
(O mal menor que me causaste)
Prefiro a não comunicação, o isolamento...
Pois assim são tratados os loucos
Os diferentes, os apaixonados
Os que se entregam sem nada pedir
Os que o mundo não aceita...

Sou homem de muitas palavras
De gestos grandes, espalhafatosos.
A dor que a ti causei foi involuntária
Volta pro teu céu...
Que seguirei no meu inferno
Na mentira dos risos,
Na ânsia e na angústia que me faz ser quem sou...

Em papel não escreverei o que entalou
O que deveria ter dito
Do que penso hoje de ti e calo
Talvez todo esse amor desprezado
Seja fruto da projeção de um sonho meu
De alguma crise existencial.
Talvez até uma alta de pressão...
Quem sabe da minha vontade de morrer...

Mas no seu dia...
Desejo-te felicidades
Que sigas o caminho do teu silêncio
Que ficarei com meu discurso vazio
Com a minha ridícula exposição do sentimento

Siga sempre a brilhar!
E leve contigo um pouco de mim
Do coração que jamais será o mesmo
Pois aviso quem amar uma estrela.
-Cuidado! Pois que queda é longa
E quando pensas que já caiu
Ainda falta muito para o encontro com o chão
-Estou ainda em brancas nuvens
Sem noção do que me espera
Sei que levantar é inevitável
Porém, gostaria de afundar
Entre a terra e o piche do asfalto.

-Para coração de pedra, amor britadeira
-Esse não tenho, não terei.
Para ti muitos anos de vida!
Para mim espero muitas felicidades
Com a mais pura hipocrisia
Na luta dos meus dias de sobrevida
Onde eu recrio e faço a saudade...

28 de nov. de 2006

A Pessoa Errada (anônimo)




Pensando bem
Em tudo o que a gente vê, e vivencia
E ouve e pensa
Não existe uma pessoa certa pra gente
Existe uma pessoa
Que se você for parar pra pensar
É, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa
Faz tudo certinho
Chega na hora certa,
Fala as coisas certas,
Faz as coisas certas,
Mas nem sempre a gente está precisando das coisas certas.
Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça
Fazer loucuras
Perder a hora
Morrer de amor
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
Que é pra na hora que vocês se encontrarem
A entrega ser muito mais verdadeira
A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa
Essa pessoa vai te fazer chorar
Mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas
Essa pessoa vai tirar seu sono
Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível
Essa pessoa talvez te magoe
E depois te enche de mimos pedindo seu perdão.

(Que pena! Acho que para meu mal sou uma pessoa certa.
Não faço ninguém perder o sono!
Tão pouco faço alguém chorar...
Também não dou noites de amores inesquecíveis.
E ninguém me enche de mimos, ou me pede perdão...
Em fim... Eu sou a pessoa errada.
Que insistem em chamar de certa. *)
Fabio Sirino*

27 de nov. de 2006

Grito de Alerta (Gonzaga Jr.)


Primeiro você me azucrina
Me entorta a cabeça e me bota na boca
Um gosto amargo de fel
Depois vem chorando desculpas Assim meio pedindo
Querendo ganhar um bocado de mel
Não vê que então eu me rasgo
Engasgo, engulo, reflito e estendo a mão
E assim nossa vida é um rio secando
As pedras cortando e eu vou perguntando
- Até quando ?
São tantas coisinhas miúdas
Roendo, comendo, arrasando
Aos poucos com o nosso ideal
São frases perdidas num mundo de gritos e gestos
Num jogo de culpa que faz tanto mal
Não quero a razão pois eu sei
O quanto estou errada
E o quanto já fiz destruir
Só sinto no ar um momento
Em que o copo está cheio
E que já não dá mais pra engolir
Veja bem, nosso caso é uma porta entrea
bertaE eu busquei a palavra mais certa
Vê se entende o meu grito de alerta
Veja bem, é o amor agitando meu coração
Há um lado carente dizendo que sim
E essa vida da gente gritando que não
Veja bem, nosso caso é uma porta entreaberta
E eu busquei a palavra mais certa
Vê se entende o meu grito de alerta
Veja bem, é o amor agitando meu coração
Há um lado carente dizendo que sim
E essa vida da gente gritando que não

16 de nov. de 2006

O CASAMENTO PERFEITO (Estrela*)



O problema é que sua densidade
vai bem com a minha tristeza.
E assim seguimos
nos enroscando em espiral.
E assim passamos horas
absorvidos na dor,
em alimento à infelicidade,
numa manobra insegura e dorida de contorção,
à procura de aconchego.
*
Aprendemos, antes de tudo,
a importância da mesma estratégia de sobrevivência:
fazer da lágrima o combustível para gerar vida.
Por isso a identificação imediata,
entre os tantos que caminhavam sob o mesmo sol.
*
Desde a primeira vez que sentimos o cheiro
da vontade mútua de desaparecer,
em meio a muita fumaça esverdeada,
sabíamos que haveria entendimento
fosse a linguagem vocal,
de gestos ou da mais completa paralisia
*
Quando eu simplesmente te negasse sons
ou fechasse os olhos, sabia:
alcançarias a intenção das palavras caladas.
*
E tu sabias que eu tomaria as atitudes certas
e te protegeria dos constrangimentos,
toda vez que, enfraquecido,
deixasses o personagem entrar em cena
entoando, sem tua permissão,
entre galhadas sonora
se gestos de alegria exagerada
os teus mais secretos medos
*
Cheirávamos a porto seguro.
Então, selamos o pacto de dor.
Prometemo-nos fidelidade eterna:
Só para teus olhos derramaria minhas lágrimas.
Só em mim buscarias guarida do medo da noite.
Só nos teus ombros,
eu descansaria o peso que carrego.
Só em meus ouvidos maldirias o mundo.S
ó em tua boca depositaria meu desânimo.
Só a mim permitirias
exalar o cheiro da tua desistência.
*
Pela benção do sagrado, viramos um.
Na tristeza e na tristeza.
Na doença e na doença.
Por todos os lentos dias de nossa vida.
Serias meu homem... seria tua mulher...
Até que a morte nos unisse
em energia decadente
para todo o sempre.
*Rita Mendonça é escritora (http://palavrasdeabsinto.blogspot.com).

6 de nov. de 2006

Esperando.. (Janaina Maciel)


Eu não quero conselhos nem consolos,
Esconder meus mares revoltos,
Viver de olhares soltos
E sempre me enganar.

Eu quero que alguém invada minha vida,
Impeça minha ida,
Mexa na minha ferida
E me faça suspirar.

Eu preciso de um olhar sabido
Que me arranque o vestido,
Mas brilhe quando eu rio
E pergunte se pode ficar.

Não espero que seja pra sempre,.
Só quero o friozinho no ventre
Esperando que chegue e entre
Sem nem avisar.

Então, em companhia da dor,
Fico aqui sonhando esse amor
Que meu coração finge acreditar.

(Rimas pobres, tristes, perdidas e sonhadoras.. igual a mim. *)
*Janaina Maciel.

Deus como as coisas mais simples são tão belas... Entendo sua modéstia, linda e jovem Janaina, mas não deixe de escrever rimas pobres, tristes e perdidas, pois como toda sonhadora aqui é teu lugar. Venha sempre nos visitar que será bem vinda.
Fábio Sirino.

3 de nov. de 2006

Se Perguntares II (Fábio Sirino)

Digo que já não precisas se repetir...
Pois sabes que realmente não me conheces
Que sou o que passa despercebido
O invisível mutável no canto da casa
Sou o que se varre e não recicla
Poeira, lixo, algo que se come e cospe...

Sou também, o que sonha em fazer o bem
E sempre é tido como louco, fazer pouco disso é normal.
O que manda flores para ser mandado embora
O que tenta se entregar para não ser visto ou procurado
O que se despe, terno e companheiro para ser condenado ao abandono

Rei sem trono, político sem mandato
O que trabalha por graça e pelo que acredita
O homem de bela alma, o bom amigo
Esse que se castiga e se cala
Esse que chora e se isola
E se aflora o desejo, será chamado de supérfluo

Não precisas dar-te justificativa para o desconhecimento...
Os desinteressantes já sabem do seu lugar
Entendem mais que qualquer sociólogo sobre segregação
E parte para a mentira dos risos como medida paliativa
Para se tornar uma boa companhia

Deixo no rastro, minha dor
Das fantasias e das angústias
Deixo a herança dos que se empenham em pensar no outro
Em fazer o outro gozar
Curtir e brincar, de fazer sorrir uma criança triste contando estórias

Sim, nobre companheira...
Existe gente assim
Que acredita que um poema conquista
Na fidelidade e na doação
Na paixão e na persistência, no que é justo
Que crê na justiça e em Deus...

Mas, do que adianta tal continuação
Se sei que me desconheces
Se sei que não me enxergam
Talvez continue andando pela falta de destino
Talvez falando pela falta de ouvinte para cansar de mim
Sou um esgotado que se arrasta vida a fora
Sem portas ou vizinhança para doar um copo d'água

Tenho a chaga dos que acreditam na humanidade
Nos que acreditam no amor
Sei que nem imaginas quem sou
E passas por mim sem olhares
E sais de mim sem pudor

Então se te perguntarem quem sou
Nem precisa mais dizer que não me conheces
E nem que achas que sou ninguém...
Cale, e dê com os ombros.
Não gaste o seu precioso português
Com alguém triste que nem merece sua explicação
Pois continuarei sendo um ninguém em meio à multidão...

O que Deus deu... (Fábio Sirino)


É hora de cair do céu
O lugar que nunca a mim pertenceu
Compartilhar do brilho e da luz
Dos encantos e da paz
Foi hora de cair o meu mundo
Momento impróprio
-Mas, quem é perfeito-
Fico na ânsia e no vazio
Algo que aperta o peito e faz chorar.
Para que Deus me deu tal presente
Se predestinado já estava tal fim?
Como posso esquecer do sabor
Do cheiro que escolhi como perfume
Para esfregar meu corpo e entregar minh'alma
Qual será a verdade que posso contar?
Entre meu medo da morte e minha falta de viver?
Qual afirmação será mais digerível, lógica e comum?
É cedo para falar ao telefone
E tarde para evitar o desejo da voz
Remédio para o buraco negro do meu espaço caído
Que mundo foi esse que imaginei
Se volto às indagações
E aos medos que achei ter perdido?
Encontro no último andar o fim das escadas
E o céu que Deus me deu desaba sobre minha cabeça
Quando estou sem força nem ânimo
Para empurrá-lo para cima
Queria dizer a Estrela o que de mais lindo há no infinito
E gritei em voz baixa, e fiz má-criação justa
Fundamentada e já cansada, esta, meia que guardada
Entre o peito e cabeça,
Entre o pé e o universo que não é meu
De volta as origens, estou eu
Minha raiz é forte demais para que eu acredite em felicidade
Mas sei que no fundo estou agradecido a Ele por tal presente
Compartilhei momentos ao lado do cosmos
E pude sentir um curto gosto de felicidade
Tudo foi passageiro, eu sei...
Agora volto à solidão do meu apartamento vazio
Sem cor, de sorriso cinza.
Fico no fim das escadas para a linda Estrela
Quem não tem nada pra te dar sou eu
Leva contigo meu amor
Que te lembrarei como o presente que Deus me deu...

1 de nov. de 2006

Sem medo da dor (Fabio Sirino)

(Poema para quem grita, e se irrita com o silencio...)


Na sombra das gérberas
Como sobejo do espelho
Da vida que escolhestes
Minha parcela é dispensável
E mesmo assim busco acreditar-te.

Perco poemas e idéias
Restam os anéis dos teus dedos
Que fantasio elos e sons
Dos pés ao encontro do caminho

Tenho um adversário forte
Invisível e incansável
Pois teu passado move o moinho
Faz do teu engenho nostalgia
Do mal que te cansastes
Do mal que fizeram a ti
E da culpa que criastes
A mais pura tradução
Das tuas regras e limitações

Sim! Forte são os guerreiros
E me orgulho em persistir
Digo ao meu instinto
Que sem minha auto-destruição
Por ti teria a mais pura amizade
Mas se sei que não temo a dor
então; tenho por ti desejo
E o mais sincero e inseguro amor...

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