23 de jul. de 2007

Minha Hora (Fábio Sirino)



Talvez seja minha hora de descansar

Assim como alguns amigos já fizeram

E tantos outros que vieram antes de mim

Dormir um pouco, por vários e vários dias

Sem som, luz ou imagem do homem forte que criei

Já sem voz pra gritar, já sem medo

Assim como eles, pretendo desistir

Der-me tempo na busca pelo desconhecido

Pelo nada que já carrego

Assim como eu, estranho

Deslocado, solitário solicito

Com ar de bom moço alegre

-Como sei mentir-

Assim se vão minhas vontades

E em muito breve minha vida

Dores amores e feridas

Para o céu, inferno ou para o nada

E quem me conheceu imagem e cantos

Terá uma pergunta, um julgamento

Milhões de duvidas

-Porque será meu Deus?-

Dirão os que gostam de mim

Sentirão talvez minha falta por alguns dias

Mas somente por alguns dias

Após as formalidades

Tudo correrá para a mais simples normalidade

Dentro da mediocridade dos dias que se seguem

E como já bem disse Álvaro de Campos

-Lentamente esquecerão de te, e só serás lembrando

Em duas datas, aniversariamente-

Tão breve seja a vida, assim também se dará as lembranças

E parti como hoje desejo

Tornou-se quase inevitável

Pela falta ou pelo excesso

O exagero dos sentimentos que me cercam

Deixo então meu legado de fracassos

Deixo então minha coragem e covardia

Essa é minha herança:

Uma mão estendida, aos que me negaram abrigo,

Um sorriso largo, aos que choravam perto de mim,

Um ombro aos que buscavam consolo,

Enquanto me abandonava pelo mundo

Nas mentiras e histórias que criei

Assim apagarei esse “fake” que sou

Com um “delete” e um ponto na poesia...

9 de jul. de 2007

O primeiro dia...(Fábio Sirino)



O primeiro dia após o fim
É uma ressaca doida e sóbria
Pois na noite anterior,
O adeus fica martelando os sonhos
As projeções, as expectativas e os planos
Todo que se foi pelo ralo, nas lágrimas
Da alma a sarjeta onde estou
Onde penso estar, mesmo sabendo da saída
Fico eu vivendo essa dor, esse medo e esse amor

Lógico que eis a primazia que sempre busquei
Cor da vida que tando desejo
Lógico quanto à vinda da morte
Como meu olhar vazio procura tua imagem
Como teu cheiro, invade meu eu
E como eu, meu desejo sucumbe a tua alma
A tua força e as tuas duvidas

O primeiro dia é sempre assim
Parecemos até mais fortes do que estamos
E quando olho no espelho
Meus olhos refletem os teus
Minha mão busca a tua
E longe isso corta o peito e me deixa nú

Quero então uma bala
Um revólver e coragem para dar-me fim
Assim sem cartas ou testamentos
Sem ti a vida some, perde claridade
Sem ti o sol já não brilha
E se for para teu bem
Assim serão meus dias
Sem brilho nem claridade
Sem cheiro de menina arteira
Menina levada às melodias e movimentos
Uma grande mulher de alma rara

Corri para longe e sei que fui injusto
Mas não covarde como pensas
Enfrento a distância do que mais quero perto
Por escolha, ou por imposição do destino
Queria mais que isso, quero formalidade sim.
Namoro de porta até
Quero mais filhos e sonhos
Projeto de vida a dois
Quero dizer todos os dias que te amo
Mais que ontem e menos que amanhã
Que só a morte nos separa

Mas é dia de calar e seguir
Sem a noite de quarta no calendário
Pois para mim ela ganha um outro nome
E a quinta o mesmo
O resto da semana chamem do que quiser
Mas sem ti, eu a chamo de tédio...

8 de jul. de 2007

FIM... (Fábio Sirino)


Há noites propícias para uma despedida
Há dias que as coisas
Têm uma outra forma de serem vistas
E minha visão inebriada
Toma forma e ganha humidade
Ao contrário de Elisa, farei de sacanagem
Mas talvez não para bem, ou pra inocência
Mas voltarei à dureza e a hostilidade
Que me trouxeram até aqui.
*
Aqui nessa madrugada,
Onde não me acompanho e “me abandono”
Nas ruas estreitas e antigas da cidade velha
Ruas vazias e sofridas, ruas de sonhos e medos
De gente e de almas que já se foram
Partiram e seguiram suas estória
Fecharam seus círculos
Ou como eu, tiveram medo e ficaram calados
*
Agora é hora de gritar
Mandar a merda tuas inseguranças
Os teus desejos que me cortam a alma
Quero mais do pode me dar
E agora acho que tinhas razão
Quero mão, pé, boca e sexo explícito
Quero um vinho e um baseado
Mas não esconderijo ou abrigo
E sim liberdade sem mentira
E sim doação sem cobrança
*
Deixe-me seguir então
Perto dos fracassos que não te pertencem
Perto dos sonhos que não são teus
Do amor que não pode me dar
Deixe-me calar e pegar a Piedade
Que ele me leva em casa
Volto para perto das nuvens
E do meu disco voador
E desejo a te a melhor dança e a melhor noite
O melhor sonho e o maior amor
Que já sonhou um dia ter vivido
Porque pra mim acabou
E eu já deveria ter partido...
***

6 de jul. de 2007

Depois da noite de prazer (Fábio Sirino)



No fim da tarde

As coisas ganham o verdadeiro sentido

Na realidade mais dura e cruel da vida

Depois dos sonhos que mal sonhei

Depois dos poucos momentos de sorriso

Um soco em minha alma

Ou apenas mais uma despedida

Outro momento de choro

Que resposta Deus nos dar com isso?

*

Esperei a noite como se fosse eu a morrer

Eu a sofrer, só num apartamento de paredes brancas

E insisto nessa repetição

Pois assim, se dão meus dias

Minhas vitórias

Como num livro sem escrituras ou fotos

*

Como ser quem sou, antes de me sentir algo?

Antes de me sentir parte de algo

E no nada que me incomoda

Vejo de dentro o vazio dos segundos que se seguem

Antes que me leve uma recordação

Mais um dia de minha vida

Eu quero gritar

Eu quero chorar e poder cair

Antes que diga-me que é tarde demais

Quero tentar e tentar até cansar

*

Vejo então as despedidas de uma outra forma

Vejo os fatos que se seguem assim também

E se como não bastasse

Repito-me na forma de ver toda essa mudança

E por isso me calo

Mesmo querendo gritar

Mesmo precisando chorar e cair

*

Talvez, hoje, eu faça um testamento e me mate...

Mas minha vontade de viver é tão maior que eu...

Meu desejo de amar é tão maior que eu...

Que naufrago em esperança já desiludidas

Já fadadas ao fracasso

E nele, eu a lutar, eu a seguir, eu a calar...

*

Porra! Mais o que fazer?

Se a resposta de Deus não cala a minhas perguntas...

Deixo meu filho e minha música,

Deixo poemas e risos para posteridade,

Ou deixo dívidas e inimizades?

*

Desejo o mundo e o que tenho?

Uma força que não enxergo

Amigos mórbidos que se matam

Amigo forte que clamam por mim

Um coração enorme que sofre mais

Não! Eu tenho apenas medo de me sentir ridículo.

***

3 de jul. de 2007

Revendo (Fábio Sirino)

Enquanto tento fugir dos seus doces sorrisos
Peguei-me sim, a sonhar com seus beijos no meu ouvido
Mas não liguei e nem fiz pirraça
Já me encontro ferido o bastante pra inda te ver em carne viva
E seguirmos sem solução
Nesse amor de via única que ainda nem nasceu direito
Mas que já deveria ter morrido assim, só.
*
Se tu pudesses ter te visto ou se enxergado um pouco mais
Se tu tivesses tido a calma de ouvir os que a te admiram
E esperasse pelo viés da verdade tuas respostas
Tudo estaria exposto de uma outra forma
Se tu quisesses poderias reverter
Se crescesses e não se desculpasse ou não se culpasse
Mas se tu soubesses do quanto que te quero bem
E do medo do mais que isso, do querer bem mais que isso
Do que não posso mais sonhar
*
Vou de volta ao meu segredo, vou para o meu passado
E apague dos meus dedos teu gosto, teu ventre
Pois estou indo de volta ao meu passado
Apegue da memória do teu celular os meus telefones
E o endereço da minha cama
“Arranque do teu peito meu amor cheio de defeitos”

Soneto para uma quase Fumante (Fábio Sirino)


Adeus menina encantada
Já passa das doze horas
Está em tempo de ir embora
Pra não cair na madrugada
*
Chega de discurso vazio
Dos poemas loucos e apaixonados
Já não me basta ficar só do lado
Feito um tolo ou um imbecil.
*
Encare a noite como despedida
Pois já anunciei minha partida
E hoje o prazo acabou
*
Vou com amargor no peito partido
Meio desgostoso e já sem jeito, doido
Dos sonhos e vendo que destruíram meu amor
***

O Perdedor (Fábio Sirino)


Pelo calor que não senti
E pelos beijos que não são meus
Da cor que só você tem
Dos olhos ariscos que lhe pertencem
Pelo pouco ou muito
São sentimentos antagônicos
Desejos meus e afetos seus
Do sexo que enxergo
E do respeito que me tem
Nossas verdades já não se cruzam
Elas se vão meio à fumaça dos nossos cigarros
Com dor e lamento dos poucos momentos
Já saudosos que carregarei comigo
E na afirmação de ser mais que um amigo
Um amante que se deita para sorrir do seu lado
Que sabe chorar e rir das tuas tolices
E lhe fazer sentir-se mais confiante
Do sol que nasceu pra você
Que lhe esperar para brilhar
E eu sim, volto a minha escuridão
Pois a mim, só a lua pertence
Um pouco de sombras
Um resto de afeto que se quer tem relevância
Ao mundo que lhe encanta
Aos lutadores que lhe conquistam
De mim... Ficam apenas poesia e saudade
Um desejo inerente e intrínseco
A fortuna dos apaixonados
E é essa minha dor
- Para coração de pedra, amor britadeira-
E esse já disse que a mim não pertence
Canso antes de vencer
Procuro espaço longe e não canto derrota
Como bom perdedor apenas choro calado, sozinho
Fazendo dela música e poesia...

Delírio (Olavo Bilac)


Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
- Mais abaixo, meu bem, quero teu beijo.
*
Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente. A minha boca obedecia
E os seus seios. Tão rígidos mordia.
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo
*
Em suspiros de gozo infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
- Mais abaixo, meu bem!- num frenesi.
*
No seu ventre pousei a minha boca,
- Mais abaixo, meu bem!
– Disse ela, louca, Moralistas, perdoai! Obedeci...
***