29 de fev. de 2012

O Anjo (Jurandir Bozo)




Ainda guardo a imagem que fiz de você
E mesmo em pedaços
Meu peito sem força
Grita silenciosamente seu nome
Ai se você conseguisse me escutar
Pois por mais força que coloque em meu cantar
Nossos ritmos parecem não se permitirem
Harmonizar a mesma melodia
Distantes e ásperos seguem sem esperar
Assim longe das fontes minha boca saliva
Meus lábios pedem por você
Sem nada que sacie minha paixão
Entrego-me a outros vinhos
Entorpecido quem sabe durma cansado
Para que com o cansaço o sonho adormeça
E assim ele não traga você a mim
A meus pensamentos
Corrompidos por seus encantos
Em mais essa noite que se segue
Nem o cansaço ou a embriaguez
Fazem-me fugir do que intimamente mais desejo
E assim perto da fantasia que faço de você
Entrego-me aos risos seus
Ao que não me pertence
O anjo de sorriso de sol
De poucas palavras e muitos mistérios
Algo que não sei enxergar
Além das curvas que me atiram ao precipício
A beleza angelical que inferniza
E acende em mim
O que achei que a muito
Pensei ter apagado com jatos de dor.



O Meu Filme (Jurandir Bozo)




Volta-me todo vazio de antes
A solidão mais presente
Os dias mais longos
A irritabilidade dos mal amados
E não é o sexo que não me falta
Que me parte em dois
Que quebra minhas convicções
É o que não alcanço
Velho demais para sentir-me perdido
Jovens demais para dar-me fim
Aos restos da esperança que cativo
 Em caminhos já conhecidos
Reviso as historias que se repetem
O vazio de antes aflora
Pensamentos ...
E tudo mais que me empurra noite adentro
De olhos abertos no mais obsoleto escuro
Vejo o que se perde de mim
Detalhes, expressões, mancadas
Coisas que me envergonho ao lembrar
E assim vou, vou sem pensar
- Mentiras? Certezas?
Eu apenas não falo mais em verdades
Vou ciente das minhas vontades
São, desvio meus olhares pidões
E antes estivesse louco
Crendo no impossível
Em duendes e Papai Noel
Assim talvez não enxergasse o mundo
Como se fosse um filme que não participo
Que no curso real do seu roteiro natural
Mostra-me diariamente um final
Com todos os protagonistas felizes
Acompanhados e apaixonados
Enquanto eu, ali de fora
Observo a historia que projetei.
Esperando apenas a imagem ir escurecendo
Para subirem os créditos finais



17 de fev. de 2012

Intimidando (Jurandir Bozo)



Quantos dias ainda restam
Sem que a minha esperança
Ponha-me de forma ridícula
A ainda crê na possibilidade do impossível?
À toa, vendido, entregue
Meus pensamentos me guiam a derrota,
Tem vezes até,
Que todos os pedaços de mim
Se sentem tolos...
Quando fico eu a falar engrossando couros
Dos que nada tinham haver comigo,
Quando meus olhos de canto
Seguem o desejo de minh’alma
Presos a beleza dos sorrisos dela.
Porque estaria ali se não para isso,
E apenas para isso...
Não me interessa mais nada
Que não fosse as escondidas
Espiar de perto o seu jeito,
Escutar de perto seu tom,
E de perto sentir sua presença
O mais discreto possível
Da não percepção da minha existência,
Da existência dos meus olhares,
Dos meus desejos e temores.
A ela me expus forte
Quando minha vontade era de falar
Em nome dos que temem a rejeição,
Dos que alimentam os sonhos,
Dos buscam o amor...
Que vêem a vida com paixão,
E mesmo covardes se entregam a ela.
Assim levados por a vida ou por amores,
Seguem dentre a multidão
Com um vazio sem tamanho mensurado...
Sozinhos, bancam uma felicidade
Que os olhos não pagam.
Queria mostrar a ela
Todas as minhas contradições,
Toda poesia que de cá, eu enxergo em seus olhos
E em sussurros falar ao ouvido
Versos do que ela desperta de melhor em mim...
E assim contar-lhe segredos, historias...
Ao ouvido confessar baixinho todos os pecados
Que cometeríamos juntos,
E não apenas mostrar-lhe
A fumaça do meu cigarro que a deixa mais distante.
Mas não, eu apenas calei, ri e fui embora...
Fui embora pensando ter feito o melhor
Evitado a tempo algo vexatório.
Acuado pelo senso comum
Ou entendimento do que somos,
Eu disperso, louco, livre,
Imenso em mim e minhas fantasias,
Temi ficar e dizer tudo que sei que gostaria de ouvir,
Pois certamente não seria de mim
Que tais palavras ganhariam força em coração...
Então fui, e que escolha teria eu?
Foi mais que sua beleza que me intimidou a seguir.
Foram suas palavras...
Quando me olhava nos olhos,
E me chamava de amigo.



12 de fev. de 2012

Em Branco (Jurandir Bozo)





Abri-se em mim
Novos espaços...
...Vazios...
Como se um mal súbito
Acometesse todas as lembranças
De mim e sobre mim...
... Vazio...
E dou-me então a consciência
De reconstruir imagens
As que fazem de mim
As que faço do outro
Num intervalo espaço tempo
Que o universo varre
Toda minha existência
...Morte...
Das pessoas que um dia
Pensaram conhecer-me
... Pos vida...
Sem amores tolos
Adaptado a solidão
E a tudo mais que me condena
Reconfiguraria o conceito
... Felicidade...