25 de abr. de 2006

Piercing (Fábio Sirino)


O que foge da mordida
Se transforma em atitude
Torna-se apetrecho na língua
Que arde e beija, apimenta
Feri o fundo do peito sem rasgar a pele
Na língua em forma de prata
Na pele negra, magra, mulata
Fica o mistério do comportar
Do agir, do falar
Da forma de andar
Se é que anda, Se é que desfila ou rebola
Da bola que fica na boca
Louca e que rola e excita
Que grita junto a ela
Faz da sua feminilidade um ar escuro
Que nem de cima do muro se enxerga
Os olhos dela, a sua cor
Da voz e que imagino
Da palavra que vaga, tom de noite
Da menina do verbo cortante
Que me desconhece e matém distância
Para que não deixe de ser sonhada
Vista e idealizada em fantasias
Que vão além do estudo da comunicação
Ficam caladas entre a língua e o céu da boca




11 de abr. de 2006

A Concha (Fabio Sirino)


Como posso conhecer
O interior da concha,
Olhar por dentro, entende-la
Sentir no seu silencio mensagem mais clara
Tão nua, quanto ela
De lua, dela, da fragilidade que endurece
Torna rígida a matéria bela...
Mas como vela assim....
Aberta sem ter que brecha
Enxergar os cantos, as migalhas
Para compreender o todo
Se há um toldo sobre a alma
E se fecham as portas as janelas
Já que o mistério agita e não acalma
Faz do vento o furação
Que derruba as arvores enraizadas...
O segredo vai alem da luz....
E a verdade rompe o escuro;
Mas dentro de se, se vê o que se quer
E esconde o que não se deseja

1 de abr. de 2006

Minha estrada (Fabio Sirino)


Até que se tarda o fim
Estou de portas e braços escancarados
Como se esperasse por quem já não vem mais
Estou em casa e sinto-me alheio as coisas
As minhas coisas, as coisas que já desconheço...
Vou para rua, e a tomo como meu lar
Por vezes sinto-me dela
Como um apaixonado por cada pedaço do asfalto
Sigo sozinho num flerte de homem e rodagem
Conto a ela minha vida
Mentiras que os outros acreditam
E verdades que me negam
Sou o estereótipo do que foi expulso
E entendo o medo e a exigência do outro
Sou então, ambas as partes que fazem a estrada,
A areia, a pedra, o pinche e o cimento...
Antes de chorar ou morrer
Continuarei a andar e sorrir sozinho
Fazendo do resto de vida que desprezo
Um engodo, ou a mais inocente palavra
Que pronunciei quando criança...