7 de dez. de 2013

O Barquinho (Jurandir Bozo)



Escorre em meu peito
Um restinho de água do rio
Junto a uma dolorosa saudade
De quem nunca fui
E fico imaginando
Enquanto goteja meus olhos
As poucas águas do rio
Que ainda carrego no peito
Assim por vezes saudade e eu rio
Por vezes dor e eu rio também
Eu rio da vida observando suas margens
Que nunca passam ou escorem
E a margem de uma lembrança do que nunca fui
Finda mar adentro feito um barquinho de papel
Indo para sua ultima pescaria
Não cabendo a mim empregar virgulas
Nem tampouco colocar pontos finais
Eu feito barco navego suave
Mesmo sendo o grande alimento
Das tempestades que me atormentam
Olho para o fim da minha rua
E vou beirando manso a causada
Até chegar aonde sempre vou
Eu que sempre quis ir além-mar
Conhecer terras distantes
Universos esquisitos
Volto sempre aos mesmos lugares
Onde mesmo desconhecido
Todos sabem quem sou


5 de set. de 2013

Pena de Vida (Jurandir Bozo)



Condenado I

Navego meus pensamentos em mares da monotonia
Contrario das minhas mais profundas intenções
Assim com a mente quase fazia
Vem você dançando ao vento
Feito brisa de verão
Transformar meu inferno em belos solos
Eu que buscava calmaria
Só enxergo você e seu mar revolto
Sem espaços para mais um em suas aventuras
Cego minhas tardes e o fim dos prazos
Contas a pagar e milhões de satisfações que não dei
Feito criança vivendo vida de gente grande
Como se o meu universo respirasse solidão
Num oceano de pessoas que me cercam
No ínfimo espaço de tempo
Onde a consciência não vai lhe buscar
Divido-me em mais do que poderia ser despedaçado
Partido que se perde em três ou quatro mundos seus
Que de longe fica a imaginar
Suas trincheiras e seus militantes
Suportarem dor maior que a minha
Essa que esvazia e me consome inteiro
Rouba-me as forças e cala minha escrita
Treina minhas palavras e elas condicionadas
Só chamam seu nome em gritos sinuosos
Cuja melodia soa em sonhos bons
Que ainda insisto em ter
Mesmo sabendo que sem você
Sou um condenado
Que vive com vontade de morrer


4 de set. de 2013

O Incoerente (Jurandir Bozo)




Ontem a noite pedia tua presença
E o céu sem lua e as poucas estrelas
Contavam uma historia triste
Dos muitos que como eu
Amam solitários na escuridão
No anonimato das brincadeiras
No anonimato das muitas palavras
Onde se disfarçam os medos
Onde se escondem os gritos de prazer
Feito vinho derramado entre as coxas
Morada dos bichos e da poesia
Animais que se amam e se pegam
Homens que se evitam e se negam
Eu um misto de ambos
Fico entre o amor e a indiferença
E mesmo sem propagar minha paixão
Olhando em teus olhos
Para que neles enxergues meu mais profundo medo
De perder o que nunca foi meu
O que não me pertence
O medo de perder-te
De desencontrar as minhas vontades
Nunca esqueça de minhas fantasias
Não esqueça que mesmo antes de tocar tua pele
E sentir teu perfume
Eu já ma Apaixonava pela beleza de tua alma
Pela beleza que em palavras tu me guiava a descobrir-te
E se partir sem te dizer o tamanho do meu querer-te
Olhando em teus olhos
Mesmo diante de tantas contradições
Creia apenas na coerência de meu amor
Pois ele é a única verdade que há em mim


14 de jul. de 2013

Ela nos Meus Olhos (Jurandir Bozo)



Meus olhos correm para longe de mim
Vão sem medo da chuva
Suados a sobra da distancia que se impôs
Sozinhos eles se fecham para o mundo
Buscando caminhos inóspitos
Morrendo de vontade de sorrirem para você
Morrendo de vontade de se enxergarem em seu olhar
Assim suados eles instigam tremores e desejos
Aos extremos da minha imaginação
Da dor ao prazer
Todo meu corpo lhe espera
Todo ele lhe deseja
Suas curvas e texturas
Seu cheiro e seus segredos
Contados feito um sopro na nuca
Ou um convite para dançar no escuro
Mas solitários meus olhos se calam
Dormindo para o mundo
E acordados para você 




3 de jun. de 2013

Saudades Hoje... (Jurandir Bozo)




Hoje me deu saudade do tempo que fazia tudo errado
Saudade da liberdade irresponsável
Da inconsequência das afirmações afiadas
De sair para rua sem grana pra nada
De voltar para casa de corujão na madrugada
Das paixões prolixas e dos sentimentos desmedidos
Da vontade de morrer e de todo exagero juvenil em querer viver
Viver e viver sempre mais
Das muitas esquinas em que passei nada despercebido
Estranho a mim em tudo que fui
Hoje apenas tenho medo
De errar
Da violência da noite
De ser inconveniente aos olhos dos outros
De não ter grana para alimentar minhas manias
De me apaixonar loucamente
De morrer
Assim entre os extremos ainda seu que sou o mesmo
Mais velho e bem mais covarde
E por isso que hoje depois de tantos erros e acertos
Aceito todos os defeitos que construir
A mim
O tempo e assimilação de quem fui
(- e o mais importante-)
E de quem sou agora...


2 de jun. de 2013

O Olhar Dela II (Jurandir Bozo)




(Encantos de Cipriano)

Assim o tempo discorre na modernidade
Outras formas tênues de expressão
Ou mesmo de comportamento...
Nisso, vemos assim meio que distorcido.
O entendimento de certo, errado, feio, belo...
Vemos a fuga dos olhares,
O esconderijo dos encantos perdidos
Pelo simples fato de não nos olharmos mais como deveríamos,
Nos observamos como seres humanos,
Belos e complexos em nossas origens e diversidades...
Perdemos a cada dia a essência dos encantos,
Em especial,
Perdemos a cada dia a essência dos encantos femininos...
A força e pureza da mulher contidas num olhar...
Sua determinação,
Sua coragem,
Sua beleza,
Seu charme,
Sua liderança...
Talvez esse seja hoje a pergunta que mais me incomoda...
-Porque calar o olhar???-
Quando vejo uma foto como essa
Tenho a certeza que a beleza que grita nos olhos
Jamais deverá ser silenciada...
Pois ainda tem muitos olhares repletos de sons
Para harmonizar o entendimento humano
Do que é de fato a beleza de sermos o que somos
E propagar encantos mundo a fora e alma adentro...



Esse poema nasceu naturalmente ao me deparar com um lindo olhar, ou melhor, ao me deparar com o olhar Dela... A moça das terras de Cipriano... 

1 de mai. de 2013

O Sorriso Abril (Jurandir Bozo)




Abril sorriu pra mim
Passando perto de todas as incertezas
Reflexivo feito o infinito
Sem dar fim as minhas dividas
(E quem antes de partir dá fim as suas)
Sem a necessidade de ater-me ou atear-me
Descompromissadamente embasado
Nos riscos que desde sempre tomei para mim
Apenas fixo meu pensamento no sorriso que se abriu
Eu que tinha a mim sentenciado indiferença
Como se todos os outros fossem iguais
E viver repetições fosse sempre menos proveitoso
Que buscar a ineditude dos minutos
Encontrava-me entregue ao brilho do sorriso que se abria
Em mim mil pingos de chuva me despiam a alma
E percorriam meus instintos adormecidos
“Enestesiadamente” meus pensamentos corriam lentos
Buscavam formas e curvas
Torneavam pernas e seios
Formavam o desenho do que já havia visto
Para que assim mapeada eu não pudesse a esquecer
Mas abril se foi levou o sorriso dela
E hoje quando os pingos de chuva tocam minh’alma
Ela apenas dói
Dói como se nunca tivesse sentido tal dor
Não pela saudade ou pela falta
Mas pela ousadia de ter voltando a ouvir meu coração gritar
O que a muito já havia sentenciado ao silencio