17 de dez. de 2005

Manicômio judiciário (Fabio Sirino)

Entre bem devagar
Pois aqui os doentes se assustam com facilidade
Essa é a ala da recreação
Onde há brincadeiras e jogos
Onde fazemos as reuniões também
Damos informes
Realizamos discussões e comentários um sobre o outro

Passam por aqui diversos condenados
Pelos crimes não previstos na lei comum
Os condenados a indiferença
Os condenados ao desamor
Aos que também são sensíveis demais
Os problemáticos e questionadores
A aqueles que têm personalidade marcante
Os que gostam de coisas diferenciadas
E os que ainda são diferentes
Os que querem morrer
Os que querem viver demais
Os apaixonados pela vida
Aos que amam alguém

São em sua maioria artistas
Poetas, escritores e compositores.
Nomes como Álvaro de Campos
Florbela Espanca, Augusto dos Anjos,
Álvares de Azevedo, Camões.
Dentre tantos condenados
A serem poeta por uma eternidade
Todos condenados
Como eu e você
Amar a poesia e a morrer por ela.


13 de dez. de 2005

Se perguntares... (Fábio Sirino)


Diga que sou
Todos os mendigos da cidade
O que sempre diz sim
E ouve o não.
O que consola e apóia
Para chorar sozinho e me abandonar.
Olhando a cidade que não para

Diga-lhes que estou a favor de todos
Mesmo quando todos estão contra mim
Que penso no outroE acaba parando
Na encruzilhada com o sinal aberto
Sendo despertado pelo pensamento
Pela zoada de um buzinaSeguida de um freio agudo.

Diga que sou o que se esquece
E já não tem aniversário
Nem algo a comemorar.
Eu sou o escudo do cego
Ao ser espancado,
O que comemora o empate
Quando a multidão quer vitória
Eu sou ainda aquele
Que chora nas comédias
E se sensibiliza mesmo sorrindo
Com um drama encenado
Diga também
Que criei defesas
Numa personalidade forte
Na mentira dos risos

Diga que sou o resto do lixo
O que todos os catadores se alimentam
Com a esperança de um doente
De um doente terminal...

Se te perguntares quem sou
Diga que não me conheces
E achas que sou ninguém...
Ninguém.