15 de jul. de 2006

Girassol (Fábio Sirino)



Grite girassol
Digas o que sente
O seu silencio me mata mais
Grite girassol
Fala o que quer
O que lhe cala
A palavra que se guarda à força
Então... Tome uma atitude
Sem interferência de qualquer poesia
Sem musica ou fotos flagrante
Seja solidária girassol
Observe o vento ao seu favor
E os pingos de chuva que buscam seus dedos
É girassol...
Você deixa saudades
Desperta em amores
Encanta o cantador e ganha a cantada
(E o que queres mais girassol?)
Não cale girassol
Pois preciso ouvir sua voz
Sentir seu cheiro
E dançar a noite toda
Quero beijar-lhe e muito mais
Sem enfeites no meu resto de vida
Busco algo que faça parte, que some.
Sem quadros de natureza morta no apartamento
Deixo a esperança esperar
O sol nascer pela manhã
Para que junto à janela e o jardim
Veja o brilho da vida
Vamos girassol fale para mim
Pois já disse que lhe amo.


13 de jul. de 2006

Câncer (Fábio Sirino)



(o triste fim de uma mãe)

A mulher esta morrendo...
Definha na velocidade dos segundos
E sua segurança e prepotência
Vão junto às lagrimas
E o cabelo que lhe resta.
A cabeça cansa da batalha,
Seus sonhos morrem com ela
De toda uma família desunida
Que sofre junto, mas chora separado
Em terços e promessas
Numa fé inútil
Que o câncer insiste em mostrar
A cada luta perdida,
Com enjôos e tonturas
Que a deixam mais derrotada...
E o veneno aliado ataca ambos os lados
Do mesmo corpo que se cansa mais e mais...
Ela uma mãe, uma ex esposa
E como ex ainda sozinha
Sem um ombro que possa confiar
E do que valem seus filhos
Se ela sente a necessidade de passar a força que já não tem
Lições da vida que nunca viveu
Mas do que vale a vida
Se ela definha na velocidade dos segundos
E seus cabelos caem...
Se o câncer nos tira a fé...
Do que vale a vida
Se a mãe que está morrendo é a minha.

10 de jul. de 2006

Para longe de mim (Fábio Sirino)

São apenas pancadas
Todas essas marcas
Que trago na alma...
Como um troféu de superação
Sem ter esquecido nada
Mil angústias tenho em mim


São apenas pancadas
Essas que tu percebes
Dentro dos meus olhos
Nesse jeito afoito e paternal
De guardar frustrações
De uma juventude fodida


Não me digam o que tenho
Pois fui diagnosticado centenas de vezes
Um maníaco depressivo
Um lunático romântico
Um artista compositor de poemas
E nada se tornou completo
Sou todos os diagnósticos
Sou parte dos erros que cometi
É... No fundo não são apenas pancadas
Eu as sinto muito maiores
Elas me tomam a alma marcada
Numa dor inimaginável
Até para quem a sente
E a carrega durante anos

Não me restam mais amores
Nem amigos, bares ou familiares;
Eu nem sei se confio mais em mim
Ou se decido tudo sozinho
Para confessar pecados meus
Dar-me uma punição
(como se já não bastasse)


Tento fugir de tudo
E pra onde corro
Sempre percebo o quanto estou perto
Torno a correr para longe das minhas incertezas
Mas para onde quer que eu vá
Acabo sempre encontrando comigo
E torno a correr para longe de mim...