7 de dez. de 2013

O Barquinho (Jurandir Bozo)



Escorre em meu peito
Um restinho de água do rio
Junto a uma dolorosa saudade
De quem nunca fui
E fico imaginando
Enquanto goteja meus olhos
As poucas águas do rio
Que ainda carrego no peito
Assim por vezes saudade e eu rio
Por vezes dor e eu rio também
Eu rio da vida observando suas margens
Que nunca passam ou escorem
E a margem de uma lembrança do que nunca fui
Finda mar adentro feito um barquinho de papel
Indo para sua ultima pescaria
Não cabendo a mim empregar virgulas
Nem tampouco colocar pontos finais
Eu feito barco navego suave
Mesmo sendo o grande alimento
Das tempestades que me atormentam
Olho para o fim da minha rua
E vou beirando manso a causada
Até chegar aonde sempre vou
Eu que sempre quis ir além-mar
Conhecer terras distantes
Universos esquisitos
Volto sempre aos mesmos lugares
Onde mesmo desconhecido
Todos sabem quem sou