9 de jan. de 2011

Enforcada (JurandirBozo)

(imag:Hayv Kahraman)


Uma Morte em Jaraguá
Parte 5

                    Foi então ate a padaria, empurrou a porta de vidro e pediu uma carteira de cigarro no caixa que fica logo ao lado da porta – aquela seria a certeza que faltava – O cara do caixa entregou a carteira, mas ela não tinha dinheiro - eu esqueci o dinheiro em casa, desculpe, vou pegar e volto – e o cara do caixa disse de forma gentil – não menina leve, você não já vai buscar mesmo... ai você já vai fumando... – ela riu pegou a carteira e saiu sem entender nada, sem saber de onde viria tal confiança... Passou pela frente do mercado e seguiu como se sempre fizesse esse mesmo trajeto, abriu o maço de cigarros e pegou um, mas não tinha fogo, e mesmo assim o colocou na boca e foi andando letamente ate chegar ao sinal no final da avenida; dobrou a direita, andou pouco e logo escutou um som vindo de uma casa de shows, se dirigiu ate bem próximo ao local onde pessoas se aglomeravam, algumas para comprar ingressos, outras pela mais pura azaração e ainda a turma que fica a espera de uma cortesia para não pagar entrada.  Ela avistou um cara fumando e foi ate ele – por favor, você teria fogo?- acedeu seu cigarro e andou ate a entrada e ali viu uma placa grande – Alma de Borracha todas as sextas  com o melhor do rock – e então ela perguntou ao segurança que estava na porta – quem vai tocar ai hoje? –e ele logo respondeu- Alma de Borracha – e ela disse – mas não só é sexta – e ele retrucou – então, toda sexta Alma de Borracha –e ela pensou, mas hoje não é segunda? Foi a ate a praça que fica colado a casa de shows e perguntou a uma moça que passava – hoje é sexta? a moça riu e disse – ate as vinte e três e cinqüenta e nove é! – riu e saiu enquanto ela se via sem saber como a semana teria se passado sem que ela tivesse lembrança? Foi ate o final da praça atravessou a rua e seguiu a andar ate voltar para esquina do beco que dava aos fundos do mercado e ao invés de virar a direita para ir ao mercado seguiu reto para sua casa... – como sei para onde estou indo? A Cho que não vi ninguém morta ou enforcada... Deus tudo terá sido uma ilusão, um sonho, talvez eu esteja com algum problema de memória e só. – Mesmo achando que poderia estar doente se sentia bem mais leve que quando acreditava estar morta. Ao passar por um pequeno bar que ficava na esquina do inicio da sua rua observou que as pessoas olhavam para ela com um olhar triste e de certa forma a saudavam como se quisessem confortá-la, fosse com um aceno fosse com um olhar... Ela gelou mais uma vez a espinha com um arrepio enjoado e quando chegou à porta de casa a avistou alguns carros de policia e da impressa... Então uma mulher veio em sua direção e disse – minha filha você não era pra ter saído não, você precisa descansar, venha, entre logo que o povo ta todo querendo falar com você e não é pra falar nada agora vai subindo para seu quarto e descanse... – a senhora tinha na voz um cuidado e uma ternura que a deixou calma e segura para entrar em casa e descansar.

                Ela subiu as escadas e chegou à porta do quarto que havia acordado logo a pouco e foi quando percebeu que  tinham mais quartos, e foi a um deles, sentia que tinha que entrar ali... Abriu a porta e acedeu a luz...No quarto, fotos, e mais fotos de duas crianças absolutamente iguais... Ela viu os retratos com duas crianças brincando... Duas meninas de cabelos iguais, de olhos iguais... e viu um enfeite na parede de letras de gesso decoradas com flores e pintadas de rosa com o seguinte dizer – Amanda e Andréia – E na penteadeira um álbum que contava em imagem a historia da infância das duas meninas, do nascimento aos preparativos da festa de quinze anos. Ela sentou na cama olhando estarrecida para as fotos que estavam assustando-a a cada folha virada do álbum como se tudo aquilo fosse um pesadelo riquíssimo em detalhes.

                A porta abriu e a mulher que havia lhe recebido ao chegar entrou no quarto e sentou do seu lado e olhando para o álbum disse – vocês eram tão iguais que ninguém, ninguém, nem sua mãe conseguia saber quem era quem... Vocês adoravam se vestirem de forma que não conseguissem saber distinguir uma da outra, mas o tempo foi passando e depois vocês já ainda eram totalmente iguais. Segunda foi o dia do aniversario de morte sua mãe e sua irmã foi fazer a mesma coisa, sem deixar uma carta, uma palavra, uma explicação, nada, nada, e fico me perguntando por que ela fez isso logo naquele maldito dia, e por que aquilo, a sua mãe eu ate entendo, pois ela não conseguiria viver sem seu pai, quando ele foi assassinado ela não suportou, ela já tinha problemas e aquilo foi a gota d’água, mas eu minha filha tentei criar vocês  com todo amor que minha irmã não viveu para poder lhes dar, estou aqui sem saber mais o que fazer, você dormiu a semana quase toda e quando fui na casa ao lado e voltei você já não estava e eu já desesperada chamei a policia e a impressa toda, tive medo de algo ter acontecido a você, mas por favor meu amor, sei que esta abalada com tudo, mas não me deixa sofrer mais que já sofri. Sepultei minha sobrinha que criei como filha sem saber quem estava enterrando, diga a sua tia, fale comigo minha filha, por favor, me diga meu amor você é a Amanda ou é a Andréia...? 




Final...?

7 comentários:

Sibelle P.B disse...

Como é que que pode alguém tão simples como você, fazer criações tão ricas como essa????Passo a te admirar cada vez mais........

Goretti Brandão disse...

Dedeu querido, só agora pude ler seu conto. Li de um fôlego só. ADOREI! Vc vai longe... Gostei da forma como escreve, do estilo... Tem algo de realismo-fantástico, algo que me lembra Garcia Marques. A dinâmica é excelente. A maneira como você segura o texto, prende o leitor. Eu posso afirmar isso por ter lido todo o conto de uma só vez. Imagino quem teve de lê-lo aos pouquinhos, hein? PARABÉNS! Caminhe por aí também, Essa estrada cabe sua alma... Beijos e estou pra lá de orgulhosa de você. Quero mais contos...

Jurandir Bozo disse...

Duas pessoas muito queridas que fazem parte da minha vida, de tempos distintos, mas de um amor fraternal imenso.
Bellinha amor do meu amor... kkkkkkkkk
Vc é uma pessoa que ate quando me faz raiva eu quero perto. rs
Goretti Brandão...
Essa é uma mulher que muito me orgulha, desde de menino a admiro, pela sua pessoa, ela como mulher, como mãe, como esposa, como tia (dessa parte eu sei bem) . Hoje vem consolidando uma carreira jornalística com muito talento e ética, mas falar dela é algo que já mais farei com isenção.
Foi meu primeiro conto e apesar da bondade de vcs eu sei que ainda tenho muito que aprender dessa nova linguagem, mas sou brasileiro e fã de lula, e não desisto fácil n. vamos aos próximos. Já tem ate titulo... rs

Sâmia disse...

Caramba... eu cheguei a pensar no começo que teria uma irmã gêmea, mas achei que era muita viagem da minha cabeça!!! Heheheh... Adorei o desenrolar do conto... espero mesmo que não seja o fim!!!! TE AMO!!!

Jurandir Bozo disse...

Sam! Amo-te demais!
Quero vc sempre cantando e encantando comigo ou “sem migo”... rs
Rs... Quem sabe eu continue... Pq fico me perguntando quem era ela? Se ela mesmo não sabia...

Anônimo disse...

Consegui visualizar cada cena desse conto. Gostei a maneira como dispôs os detalhes, que por mais triviais tornaram o contexto cada vez mais interessante. Pensei em vários fins mas vc conseguiu me susprender, apesar de ser totalmente possível. Na verddade, esse conto já tinha minha atenção, quando vc o fez passar em um local da cidade que gosto muito, o histórico bairro de Jaraguá. Além, é claro, do mercado e até da padaria que existe de fato em frente dele. Me senti próxima e essa sensação foi boa. Mais uma vez, parabéns.

Lela

Jurandir Bozo disse...

Ow Lela!
Adorei saber que vc leu o conto! As pessoas queridas sempre que passam por aqui me da um prazer incomensurável.
Grato por tudo!
Suas palavras são como flores no natal!