4 de dez. de 2007

Desilusão (Fábio Sirino)



Antes que me mandem calar
Antecipo-me calando
Só, num quarto desarranjado
Vendo na fumaça do meu cigarro
O tamanho da minha vaidade
Quase nu deitado ao chão frio.

Já não ligo a televisão
Tenho vontade apenas de ler e-mails
Tenho vontade é de ler os alheios
Ver a vida do outro e comparar a minha
Só assim me sinto menos infeliz.

Sinto-me menos infeliz
Quando encontro um moribundo
Quando falo com alguém que esta prestes a morrer
Na verdade minha infelicidade se vai
Ao ver a desgraça maior que a minha
A dor maior que a minha.

Se bem...
Que quando eles se vão volto eu a minha dor
A minha desgraça e desamor
Mal amado talvez
Pense de mim o que quiserem
Mesmo assim me repito nos coletivos e esquinas
Meio que a invejar os que sofrem

Então resolvo ajuda-los
Ouvi-los e entende-los
Mesmo estando pior que ontem e melhor que amanha
E nesse ciclo que se repete e perdura minha vida
Preciso de um revolver e uma bala
E principalmente coragem para atirar
Tirar-me a vida
Recomeçar um outro sofrimento talvez
Mas esse talvez me leve a crer
Que isso pode vir a ser melhor
Talvez eu sofra menos
E quando passar pelas esquinas do inferno
Eu já nem olhe mais para os lados
Eu já enxergue apenas o belo.

Mas não! Isso não daria certo
Esse já mais seria eu.

Preciso de algo pra me preocupar
Mulheres que chorem e clamem ajuda
Mas que não se rendam
A minha vontade assim fácil
Gosto das que gritam
E também adoro a conquista.

Sou inteiramente apaixonado pelo ser humano
Complexo e problemático.

Creio ser narcisista e adoro ver no outro
O que sou ou o que quero pra mim.

Assim chego a cada fim de minhas vidas
Regado a um novo amor ou uma nova desilusão

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