24 de jul. de 2008

A Hora de Rezar (Fábi Sirino)


Rezo em noite alta
Sonho adentro aos medos que aprendi
Busco em vão e vem à tona
As súplicas dos outros iguais
Em suspiros anônimos
Passos estreitos a um caminho largo
Quem menos conheço me traz mais segurança
E nos coletivos uma e outra até me olham
Mas não me enxergam
Não sabem mais que minhas medidas
Não sabe mais que a cor das minhas vestes
Aqui tudo é tão mais obscuro
Que mesmo no azul claro do mar
Escondem-se mistérios nus
De todas as lagoas e rios
Se bem que não sou amante da natureza
Nem um vegetariano tido a puro
Gosto de sangue luxuria e carne
De boi, vaca, galinha, galos e até peixes.
Como homens e mulheres
Assimilo em mim
Todos os sabores que me fazem mal
Sem dar a mínima para um futuro incerto
Sou mais amor, sou mais momentos
Sou mais um em tantos que já fui
E não me dou por terminado
Serei mais e mais ainda se preciso for
Talvez feliz quem sabe?
Rezo em noite alta sim
Falo com Deus e nem sei se ele me escuta
Mas falo como se ele fosse meu analista
E cobrasse caro por isso...
Quem sabe um dia alguém me pague
Ou quem sabe não assimile
O desabafo louco dos adolescentes americanos
E saia com uma metralhadora no meio do shopping
Rasgando vidas e matando papais
Ou quem sabe apenas faça diferente
E lá mesmo na praça da alimentação
Abrace os emos para chorar com eles
Beijar os seguranças e deitar no chão limpo
(-Aparentemente limpo-)
Ali deitado talvez descubra
Que minhas preces nas madrugadas
E minha vontade de falar com Deus
Sejam tão solitária quanto as loucuras
Dos extremistas mulçumanos
Assim também me sinta um homem bomba
Mais perto do céu
Com a pressão em vinte e três por catorze
Com o corpo cansado
E a mente prestes pifar
Desatualizada, sem antivírus
Quem me entende?
Quem me vê alem de vestes e medidas?
Sei apenas que esta bem tarde
E já passou da hora de rezar...

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