29 de abr. de 2008

A Filha da Deusa (Fábio Sirino)


Assim se foi
Cercada dos mesmos segredos
Que percebi em suas linhas
De alguém que já a muitas vidas viveu
Assim se foi
Escoltada em carruagem branca
Perto de outros sorrisos
Com seu balé suave
Em tons escuros
Negros por que não dizer
Sem temer palavras ou expressões
Como se as águas doces
Tivessem-na molhado quando criança
Toda molhada
Encanta aos maus
Em pensamentos permeados de despudor
Pecado aos cristãos
Tesão aos macumbeiros
Como se fosse possível salvar a todos
Dos instintos que ela sem propósito provoca
Sendo tão sutil e bela
Na cor dos mistérios noturnos
De ventre aberto a gerar o novo
Segue em caminhos encantados
Como Deusa da fertilidade
O espelho dos dignos
Um anjo africano
Na selva dos movimentos universais
Na savana dos aterros urbanizados
Fruto do cajú
Que mais parece ter sabor de manga
Se xangô a ela não tivesse quizila
Provaria o seu paladar amarelo
Já com cheiro de limão
Mas ela detém todos os gostos
Cheiros e sabores
Em gozos desconhecidos
A nós mortais dos sonhos
E feliz do homem que recebe o seu sopro
Pois em vida, ela se soma a felicidade
Como filha de Oxum
Ela diz mais que sua imagem no rio
Ela corre para o justo
Ela já não tem dono
Sabe bem ser livre
Pois sua liberdade são risos
Num acumulado de dores vencidas
Segue ela sem mim
E eu?
Fico como um em muitos
A sonhar com sua beleza e mistérios
E eu?
Eu?! Eu fico sem ela.

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